quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Google quer abocanhar a Apple


Google versus Simbolo da Apple

Ao comprar a Motorola, o Google passará a produzir celulares e outros aparelhos eletrônicos. Com o negócio, a empresa tentará desafiar a supremacia da maça prateada de Steve Jobs.


       Em 1997, quando Steve Jobs reassumiu o comando da Apple, o valor de mercado da empresa, ou seja, a soma do preço de todas as suas ações, não passava de 2 bilhões de dólares. Hoje, a companhia, fabricante dos iPods, iPhones e iPads, está avaliada em mais de 300 bilhões de dólares, a segunda maior cifra do capitalismo americano, atrás apenas da petrolífera Exxon Mobil. A liderança é encarada como uma questão de tempo. Analistas do mercado financeiro estimam que a Apple poderá ser a primeira companhia a alcançar o valor de 1 trilhão de dólares.


       A maçã prateada de Jobs é a empresa de tecnologia mais bem-sucedida da história. Ela soube unir, como nenhuma outra, a excelência na criação de aparelhos (computadores, tocadores de música e celulares) à primazia no desenvolvimento de programas. A Apple fatura ainda (e muito) com a venda de músicas, filmes e aplicativos nas suas lojas virtuais. Jobs, em outras palavras, ofereceu a melhor solução para o desafio da chamada convergência digital, que é a unificação, em um único aparelho, de funções antes executadas por diversos equipamentos. Ele ainda deu a grande arrancada em direção à era da mobilidade digital – a interconexão ininterrupta via internet sem fio e telefonia celular.

Comparativo entre Apple e Google (Valores em bilhões de dólares) em 2010
Faturamento: Apple 65,2  - Google 29,3
Lucro: Apple 14 - Google 8,5
Valor de mercado: Apple 339 - Google 163

       Para tentar tirar a supremacia da Apple, o Google comprou na semana passada a Motorola Mobility, por 12,5 bilhões de dólares. Criador do mais eficaz serviço de buscas na internet, o Google sempre focou sua atuação no desenvolvimento de softwares (os programas do computador) e serviços gratuitos. Seu faturamento provém da venda de anúncios publicitários exibidos nos sites. Agora, ao adquirir a divisão da Motorola que fabrica celulares e tablets, a empresa passará a produzir aparelhos. O Google é dono do Android, sistema operacional utilizado por diversas marcas de celulares e hoje o mais popular entre os smartphones (celulares com conexão à internet).

       De acordo com os analistas do setor, o atual modelo de negócios do Google havia chegado ao esgotamento. Na tentativa de crescer, ele ficará mais parecido com a Apple. A meta é abocanhar uma fatia maior no crescente mercado da mobilidade digital. Até o fim do ano, haverá no mundo 472 milhões de celulares conectados à internet, número que deverá saltar para 982 milhões já em 2015, segundo projeções da consultoria International Data Corporation (IDC). “O Google acredita que o futuro da internet está no celular. Grande parte das receitas com publicidade virá dos serviços oferecidos nesses aparelhos”, afirma Roberto Grosman, ex-gerente para a América Latina da plataforma de gerenciamento de anúncios do Google, o AdSense, e hoje sócio da agência de publicidade digital F.biz. “Não acredito que o Google esteja interessado na fabricação de aparelhos em si, ate porque a margem que se ganha fazendo hardware é pequena, muito menor do que o que se ganha produzindo software.” 

Martin Cooper, com o DynaTAC, o primeiro celular que inventou na Motorola. 

       Sob nova direção, a Motorola encontra uma oportunidade de reconquistar relevância. Fundada há 83 anos, voltada para a fabricação de equipamentos de radiodifusão, a empresa fez história ao lançar o primeiro telefone celular de uso comercial, em 1984 (oito anos depois da fundação da Apple). Foi líder em vendas de celulares por diversos anos e fez modelos populares como o compacto StarTAC. “A Motorola esteve na frente enquanto o celular era apenas um aparelho de telefone. Hoje, o telefone é só um entre os vários atributos de um celular. O aparelho em si, se pensado isoladamente, sem o sistema operacional e os vários aplicativos hoje tão utilizados, virou apenas commodity”, diz Moacir de Miranda Oliveira Jr., professor de estratégia e inovação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). O erro estratégico foi admitido por Greg Brown, um dos executivos da empresa, que afirmou, em uma entrevista há dois anos, que “não vimos a tendência de popularização dos smartphones e da tecnologia 3G”.

       Para os especialistas, um dos principais motivos que fizeram o Google desembolsar um valor considerado elevado para fechar a compra foi o fato de que a Motorola carrega 17000 patentes, acumuladas durante os anos de pesquisa na área. Outras 7500 patentes da empresa estão sob análise do governo americano e também deverão ser acrescidas às demais. Assim, o Google terá mais poder de barganha para se defender na intensa disputa por direitos autorais que ocorre nesse setor.

Steve Jobs na apresentação do iPhone.
   Cada aparelho lançado carrega uma série de inovações desenvolvidas por diferentes empresas, no preço final de um dispositivo (um celular, por exemplo) está embutido o valor dos royalties devidos a seus criadores. O Google, dessa forma, poderia fazer acordos com outras companhias para reduzir suas despesas com direitos autorais.

       Steve Jobs ganhará finalmente um concorrente de peso a partir de agora? “Querer ganhar da Apple fazendo o mesmo que ela faz dificilmente trará resultados. Ninguém conseguiu isso até hoje”, acredito Roberto Grosman.
     Uma prova recente é a Hewlett-Packard (HP), a maior fabricante de computadores pessoais do mundo. A empresa lançou recentemente nos Estados Unidos o TouchPad, um tablet para concorrer com o iPad, da Apple. Um carregamento de 270000 unidades foi enviado à rede de lojas Best Buy. Apenas 25000 aparelhos foram vendidos. Enquanto isso, mais de 9 milhões de iPads foram comercializados no segundo trimestre.


     A HP anunciou na última quinta-feira que abandonou a fabricação de tablets e também deverá parar de fazer computadores, passando a ser uma empresa de serviços. Na sexta-feira, as ações da HP ruíram, desvalorizando-se em 20%. Os próximos meses dirão se o Google terá mais sorte ao investir contra a maçã prateada.


Comparativo de vendas entre Apple e Motorola
 (em unidades no segundo trimestre de 2011)
Tablets: Apple (iPad) 9,25 milhões  Motorola (Xoom) 440 mil
Smartphones: Apple (iPhone) 20,3 milhões Motorola (Droid) 4,4 milhões

Por  ANA LUIZA DALTRO

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